Mesas-redondas

MESA 01: DAS MOÇÕES AGÔNICAS À ASCENDÊNCIA DA (IN)SANIDADE: A PSICOPATOLOGIA DO CORPO E A DEVASTAÇÃO DO FEMININO NA TERAPÊUTICA LITERÁRIA.

Profa. Ma. Maria Luiza Diniz (PPGL/UFPB); Profa. Ma. Wanessa Moreira (PPGL/UFPB/LIGEPSI); Profa. Ma. Zuila Couto (PPGL/UFPB).

Local, Data e Horário: Auditório 412 (UFPB), 25 de outubro de 2023, das 08h às 10h

Inscrições: https://sigeventos.ufpb.br/eventos/login.xhtml

Resumo: A erupção da (in)sanidade feminina frente às pressões de um patriarcado virulento e adoecedor, muitas vezes, revela-se, nas territorialidades estéticas, de forma (des)afetada, por meio de imagens, discursos e silenciamentos. No intento de contemplar essa organização semiótica, esta mesa visa compreender e refletir, sob prismas teóricos distintos, as diversas faces do feminino que, pelas diagramações artísticas, comparecem associadas à edificações mimeticamente patológicas, a exemplo dos cenários subjetivos inscritos nas obras, O papel de parede amarelo (1892); The Edible Woman (1969); e Sangue no Olho (2015), na medida em expõem a "loucura" de mulheres que sofrem mutilações psicológicas, ao serem silenciadas, não ouvidas e/ou condenadas, por subverterem os moldes convencionais.

A PSICOPATOLOGIA COMO RESISTÊNCIA EM THE EDIBLE WOMAN, DE MARGARET ATWOOD - (PROFA. Ma. MARIA LUIZA DINIZ - PPGL/UFPB)

Resumo: A erupção da (in)sanidade feminina frente às pressões de um patriarcado virulento e adoecedor, muitas vezes, revela-se, nas territorialidades estéticas, de forma (des)afetada, por meio de imagens, discursos e silenciamentos. No intento de contemplar essa organização semiótica, esta mesa visa compreender e refletir, sob prismas teóricos distintos, as diversas faces do feminino que, pelas diagramações artísticas, comparecem associadas à edificações mimeticamente patológicas, a exemplo dos cenários subjetivos inscritos nas obras, O papel de parede amarelo (1892); The Edible Woman (1969); e Sangue no Olho (2015), na medida em expõem a "loucura" de mulheres que sofrem mutilações psicológicas, ao serem silenciadas, não ouvidas e/ou condenadas, por subverterem os moldes convencionais. 

DO NARCISISMO PRIMÁRIO AO LAÇO PERVERSO: O IMPOSSÍVEL DO DESEJO EM SANGUE NO OLHO, DE LINA MERUANE - (PROFA. Ma. ZUILA COUTO - PPGL/UFPB)

Resumo: Desde o lançamento de sua primeira obra, Lina Meruane chamou atenção da crítica pela forma inusitada como conseguia entrelaçar narrativas e trazer à tona perspectivas ambivalentes quanto às identidades. Com temáticas bastante distintas entre si, sua escrita é atravessada por um traço de preocupação com a linguagem e a forma como esta pode vir a ocultar/revelar, instituir/destituir relações complexas entre os sujeitos. Ao construir a narrativa de Sangue no olho, Lina Meruane problematiza a centralidade da visão, ao mesmo tempo em que nos conduz a uma reflexão a respeito das relações intersubjetivas marcadas pela posição que os sujeitos ocupam: no romance familiar, nos arranjos amorosos. O presente artigo consiste em uma leitura do referido romance tomando por base a crítica psicanalítica. A obra é narrada por Lucina, personagem protagonista, e apresenta a trajetória de uma escritora que tem sua vida marcada pela convivência com uma enfermidade nos olhos, para a qual o tratamento é incerto. É possível associar o romance a uma já tradicional escrita da cegueira, cujas raízes podem ser rememoradas desde a mitologia grega, das quais podemos citar Édipo e Tirésias como figuras emblemáticas; mas que persiste também em obras contemporâneas como Ensaio sobre a cegueira (1995), de José Saramago, ou Informe sobre Ciegos – terceira parte de Sobre Héroes y Tumbas (1991), de Ernesto Sábato, dentre outros. O escopo de nossa análise, entretanto, recai sobre a forma como são tecidas e se desdobram as relações da protagonista com sua mãe e seu namorado, atravessadas pela condição da cegueira, mas, sobretudo pela inscrição do desejo. Para tanto, recorremos aos conceitos de narcisismo primário, desenvolvido por Freud em sua Introdução ao Narcisismo (1914), e de montagem perversa, a partir das considerações de Contardo Calligaris em Perversão – um laço social? (1986). 



MESA 02: "O MAL-ESTAR NOSSO DE CADA DIA": QUANDO AS SÚPLICAS DO DESALENTO ECOAM NAS MARGENS LITERÁRIAS

Prof. Me. Frederico Lima (PPGL/LIGEPSI/UFPB); Psicólogo Ricardo Aurélio (LIGEPSI/UFPB) e Prof. Me. Matheus Pereira (PPGL/UFPB/LIGEPSI). 

Local, Data e Horário: Auditório 412 (UFPB), 25 de outubro de 2023, das 10h às 12h

Inscrições: https://sigeventos.ufpb.br/eventos/login.xhtml

QUANDO AS DIFERENÇAS TINGEM O MAL(-ESTAR): O QUE A PSICANÁLISE FREUDIANA PODE NOS DIZER SOBRE O PRECONCEITO RACIAL A PARTIR DA LITERATURA? - (PROF. ME. FREDERICO LIMA - PPGL/UFPB/LIGEPSI)

Resumo: A perversão, enquanto fenômeno abarcado pela perspectiva psicanalítica freudiana, concebe uma cadeia intangível de manifestações, as quais podem ser pensadas tanto em relação a um desvio do objetivo sexual normatizado, caso das considerações apresentadas, por exemplo, no celebrado Três Ensaios... (1905), como uma ação desmedida e também desviante da pulsão de agressividade, em prol de um gozo sustentado na inviabilização da alteridade alheia, assim como foi mais acentuadamente exposto nos manuscritos de caráter mais sociológico de Sigmund Freud, a saber, O futuro de uma ilusão (1927) e O Mal-estar na Civilização (1929). Isso importa dizer que o mestre vienense deu contornos mais acentuados a uma discussão já principiada pelos seus contemporâneos desde os primeiros anos do século XX, acrescentando às expressões anímicas da perversão o teor agressivo da natureza humana, o que nos permitiu um alargamento da compreensão em torno do perverso, que passa a não se encontrar mais diluída apenas no orbe dos transvios de objeto/objetivo sexual. Em outras palavras, Freud sinaliza a existência de uma tendência humana à agressividade, à crueldade, ao apagamento de um sujeito enquanto promotor das angústias mortíferas de outrem, consequentemente, do mal, ou seja, podemos assegurar que o fundador da psicanálise alicerçou as pilastras epistemológicas para uma abordagem das chamadas perversões sociais, tão temidas pela sociedade graças à sua disposição perpétua de ameaçar o processo civilizatório. Dentre essas inumeráveis configurações de cunho perverso, o racismo certamente se encontra como um componente ainda muito presente na forma de operador do mal-estar na cultura. Freud, embora não tenha se dedicado ao tema do preconceito racial, ofereceu-nos algumas contribuições importantes, as quais são amplamente utilizadas na hodiernidade para subsidiar o entendimento dos pormenores psíquicos que integram tais ações, como, por exemplo, a partir da passagem da primeira para a segunda tópica, a agnição de como as vítimas do preconceito, ao verem repetidas as mesmas imagens traumáticas, não buscariam uma reprodução para integrar o trauma, mas como a própria produção do traumático. Não obstante, percebe-se a viabilidade do discernimento freudiano acerca do narcisismo das pequenas diferenças como uma das vias interpretativas para as manifestações de compleição hostil. A partir de uma abordagem centrada nessas contribuições da psicanálise freudiana, bem como mediante o auxílio de notáveis psicanalistas contemporâneos, que desenvolvem estudos sobre o racismo, buscaremos sinalizar como o texto literário, mais especificamente o conto O novo Padre, do escritor moçambicano Mia Couto, enseja-nos signos precisos da manifestação social perversa configurada no preconceito racial, aludindo àquilo que dispõe Pesavento (2003), ao ponderar que a narrativa literária, como um entrecruzamento entre texto ficcional e história, também pode ser encarada como meio de obtenção de respostas a certas indagações do ser humano sobre o mundo em determinadas épocas, de modo a contribuirmos com o imprescindível debate em torno desse componente, infelizmente, ainda tão presente no desassossego de nossa cultura.

BACO E A MARDI GRAS DO DESEJO: VINÍCULAS DE SUOR QUE AFETAM O "MACHO" NA ROTUNDA CARNAVALESCA DE CAIO FERNANDO ABREU - (PSI. RICARDO AURÉLIO - LIGEPSI/UFPB)

Resumo: Tal como os sons ábditos de um tambor, hábeis em arregimentar a cadência de uma bateria, a erupção da violência mobiliza, com a mesma imperiosidade, uma melodia sedutora e, gradativamente, incômoda, porquanto capaz de (des)equilibrar o antagonismo de forças que, tacitamente ou não, sustentam os atos de instabilidade, emergentes em esferas públicas e/ou privadas. Nessa dinâmica, a "marchinha", fastidiosa em termos pulsionais e entoada pela parceria carrasco-vítima, funciona como justificativa para quase todas as instâncias de operacionalização da dor – seja de ordem deleitosa e pacífica ou voraz e coagente. Anunciam, esses festejos, as serpentinas acinzentadas do preconceito, já titiladas de opinião, monocromáticas e bem afeiçoadas ao massacre oral orquestrado pelos que se regozijam em manifestar, sob a proteção de máscaras em célere estado de decomposição, o nefasto parecer sobre a regulação do gozo, de modo a assegurar o discurso frequentemente utilizado da "moral sexual civilizada". Em outros termos, assistimos, em termos imagéticos, a passagem para um árdego carro abre-alas, um sentimento agigantado ou uma opinião germinada, ambos provenientes de um uníssono e eufórico coro – maníaco por excelência –, e de uma falange cultural muito bem posta ao ritmo dos batuques que silenciam a alteridade, e dos fragilizados enredos contemporâneos, ignorantes em ofertar boa acolhida às tensões ancestrais entre coletividade x indivíduo, ou, utilizando o repertório hermenêutico da psicanálise, negligência frente aos operadores subjetivos que tornam vívidas as pulsões de vida e de morte. Não ao acaso, os gestos e comportamentos, fortemente ruidosos, que desfilam, com perfídia a altivez, pela avenida ordinária da existência, dão forma a uma verdadeira prévia da perversidade e da perversão, social e particular, que culminam numa apoteose da colonização do outro, da subalternização de corpos e identidades, amalgamados numa rede simbólica embotada pela (mal)di(c)ção da palavra. Das feições inebriadas e gozosas dos devassos adoradores de Baco à face esquizoide do romanesco Pierrô, insurgem os adornos poéticos (formalmente, carpideiras lúgubres e maledicentes), que invadem o conto Terça Feira Gorda (1995), de Caio Fernando Abreu. O insigne escritor, num tom excessivamente existencialista, desmascara os semblantes suados dos personagens, livres, silentes, desejosos e masculinos, pondo, à prova, as sombras delirantes de egos "machosos", orgânicos e narcísicos, cujas percepções fogem à realidade, num movimento de desfantasiamento à beira-mar. Essa exposição é, não raras vezes, intolerável aos sujeitos que se dedicam a esma bateria desafinada e a uma fragilizada concepção do ser "animus" em si e no outro. Logo, a saída primeva para a dor, para a extinção desse populesco sentimento perturbador, cultivado nos barracões empoeirados da masculinidade, além do íntimo colapso, é o compartilhamento da crença funesta sobre a vida dos "amantes sem máscaras". Seguindo por essa linha de investigação, tencionamos, com o amparo da episteme psicanalítica, adentrar nas comemorações miméticas, presentes na narrativa em tela, e, como "foliões autorizados", decifrar as charadas sobre a masculinidade que são, "propositalmente", arremessadas nos salões de um corpo social, claudicante e capenga, apático ante a explosão pulsional do sexo e da sexualidade.

INJÚRIAS DA VIRTUDE, VÓRTICES DO (DES)ALENTO: A ÁRIA MALDITA DO MASCULINO DEDILHA AS LÁMURIAS DE CLARA DOS ANJOS - (PROF. Me. MATHEUS PEREIRA -PPGL/UFPB/LIGEPSI)

Resumo: Ao largo das eras, por entre as fissuras (in)discretas do macro e do microcosmo social, mesmo em suas constelações mais singulares, os primeiros enquadres reguladores instituíram-se consuetudinariamente, a partir de um maniqueísmo persecutório e ansiogênico, capaz de tão somente interditar, em ilusões e engodos, a abscôndita potencialidade destrutiva do desejo humano. Miticamente, dados os saberes matriciais da psicanálise freudiana, a possível origem das civilizações ancestrais instaurara-se na irresoluta e sanguinária revolta contra o Urvarter, pai primitivo, figura destronada e consumida por sua linhagem voraz em nome de uma Lei superior, apta a preservar, minimamente, a finitude volátil da irmandade tribal. A hermenêutica, aqui, assegura a existência e o funcionamento, conquanto prototípicos, de uma arquitetura orgânica da sociabilidade pela autorização de um ódio ordenador, decorrente do assassinato paterno, cujas raízes extraem, do húmus invejoso, os eflúvios psíquicos da perversão que, na dinâmica dos tributos em circulação, em termos (trans)geracionais, alinharam-se e (e)levaram à propagação do signo totêmico ao campo do simbólico. Com efeito, no bojo desse empreendimento, onde a erupção do significante opera e, ao mesmo tempo, fenece, estruturam-se as rachaduras que consignam, narcisicamente, os contornos porosos de uma grupabilidade atravessada pela mesma pulsão mortífera que, outrora, "jurara" inocentemente refrear. Assim, nas sangrias estruturais do mal-estar perpétuo, escorre, (in)discretamente, um copioso afluente de imagens e discursos cáusticos, abrigados em jangadas esquizofrênicas e perversamente maníacas, que se aportam nas crenças idealizadas daqueles que se licenciam a transgredir (ou seguir?), imponentemente, essa mesma "legalidade". Na berlinda de tais ideações, o maquinário literário, desde sua gênese secular, cultua os solilóquios da (des)ordenação social, acolhendo suas contradições e, com frequência, ultrajando a utopia do símbolo paterno, de tal sorte que expõe as armadilhas de suas pretensões condenadoras, mas não menos permissivas. Eis as partituras habilmente integradas na trágica sinfonia de Lima Barreto, na qual a imaculada Clara dos Anjos (1921) sucumbe ao canto hediondo de uma masculinidade voraz e iníqua, perpetrado vilmente pelo violeiro Cassi Jones, ominoso personagem que desfibrila o aparato simbólico ao seu bel-prazer, em favor de sua fixação canibalesca ao feminino. Nas ruelas da arrebatadora novela, acompanhamos a lacrimosa danação da protagonista, vítima da irredutibilidade dos costumes segregatórios do Brasil fin de siècle e de seu amor juvenil, manipulados pelas intenções desvairadas do modista, responsável por ferir-lhe a honra e negar-lhe a alteridade. A jovem mulata, por sua condição social e, principalmente, pela cor de sua pele, ver-se enleada nas pústulas corrosivas de uma "jurisprudência partidária", que, de modo nefário, aprova as ignóbeis violências de Cassi, condenando a jovem à perdição injustiçada de seu imaturo desejo. Os agudos e precisos relatos, lapidados na intricada narração barretiana, cuidadosamente organizada em simetria à urbanidade carioca, desnudam as anuências de um "mundo cruel" e assaz perverso, que, inócuo à castração, imbui a corroída (in)consciência humana a agir conforme os mandamentos de um gozo imperativo e retaliador. Entrementes, seguindo os ditames da psicanálise (pós)freudiana, no dever de perquirir a gênese (in)consequente da perversidade moral (ou dos costumes), bem como os efeitos de suas estruturas cindidas, analisaremos como a desorganização subjetiva do personagem de Lima Barreto equaliza-se com a perfidez do contrato social, cujas raízes umbilicais remontam a moções arcaicas de voracidade, destruição e apagamento das relações de outridade.



MESA 03: DAS ENGRENAGENS PSÍQUICAS DO MAL ÀS RUINAS DAS SUBJETIVIDADES: A DANÇA MACABRA DAS PERVERSÕES NAS TRAMAS LITERÁRIAS.

Profa. Ma. Maria Aparecida Tavares Marques (UFPB/LIGEPSI); Profa. Esp. Judite da Silva Ribeiro (UFPB/LIGEPSI); Profa. Esp. Sandra Geane Braz Mamede (UFPB/LIGEPSI).

Local, Data e Horário: Auditório 412 (UFPB), 25 de outubro de 2023, das 14h às 16h

Inscrições: https://sigeventos.ufpb.br/eventos/login.xhtml

Resumo: O mal, enquanto manifestação germinada e alojada no inconsciente , exercita sua influência de maneira impositiva e inquietante sobre o ecossistema civilizatório. Com efeito, somos compelidos, em um constante fluir temporal, a interagir com as consequências deletérias propugnadas por tal força, que insidiosamente penetra os domínios de nossas interconexões sociais, afetivas e psicológicas. Essas configurações anímicas, tão intrínsecas ao humano, materializam-se mediante arquiteturas de ações que, porventura, foram engendradas pelo próprio âmago da espécie e sedimentam-se nos alicerces das hierarquias inerentes aos preceitos inconscientes que orquestram o estamento humano. Tal matriz de influências, por sua vez, ecoa em diversas etapas evolutivas, metamorfoseando-se em estratos multifacetados, exemplo paradigmático desse processo manifesta-se na formação da violência, que, em suas multifárias esferas, assume a função de definir os contornos das entidades humanas, ao encetar impressões nas subjetividades individuais, engendrando uma fusão onde o influxo manipulativo atua tanto na seara mental quanto somática, desagregando, em uma toada sub-reptícia, as células microgliais controladoras do sistema nervoso central, com tal derivação culminando, por conseguinte, em uma desintegração da estabilidade psicofísica, algo emulado, a um certo prisma, por um carcinoma devastador que silenciosamente se incumbe de dilapidar o substrato microneuronal, acarretando, de forma congruente, instabilidade nos entrelaçamentos intersubjetivos. À luz da imperiosidade de se estabelecer um arcabouço conceitual sólido no intuito de fomentar a dissecação e elucidação das corolárias nefastas dessas tendências, emerge a figura do psicanalista Sigmund Freud, que, mediante as páginas de suas obras, tece reflexões que faculta a nossa percepção a respeito da governança dos laços humanos por meio das experiências dolorosas. Destarte, tais experiências, qual sevícia imaterial, propelem o psiquismo humano em direções tríades, a saber: a degenerescência do invólucro corpóreo em si; os influxos emanados do exterior, os quais podem se metamorfosear em ímpetos esmagadores, equiparáveis a um cilindro compressor; e os arranjos interindividuais intrínsecos à coletividade. Esta última faceta, por sua vez, ostenta o cariz de um vetor inerente à estimulação de inquietações agônicas, aptas a perturbar a estruturação e o funcionalismo da psiquê, erigindo-se como um epicentro pivotal no tocante à desestabilização do equilíbrio emocional. Nesta órbita de cogitações, o enfoque, de fato, recai sobre a dimensão literária, na medida em que se intenta extrair das figuras literárias os protagonistas que, porventura, vivenciaram as vicissitudes mais inóspitas: as âmbitos psíquicos, morais e sexuais. Tais efabulações, a exemplo de "O Tigre na Sombra" (2012), de Lya Luft; "O Quinze" (1930), de Raquel de Queiroz; e "Se Tocasse Meu Coração" (1987), de Isabel Allende, têm o mérito de terem sido urdidas por mulheres, que, em meio às suas pluralidades alegóricas, esculpem a violência como um meio de silenciar os corpos e mentes, envoltos numa tapeçaria de intolerância, seja ela filial, sexual ou social. No desbravar das trilhas dessas tessituras literárias, ensejar-se-ão os fundamentos teóricos cunhados por Freud como base estrutural para a confecção de uma abordagem que objetiva a análise das patologias psíquicas alvorejadas pela violência.




MESA 04: DAS VESTES ASFIXIANTES QUE RECOBREM OS VIVOS AO AROMA VÍVIDO DAS MORTALHAS APODRECIDAS: ELEGIAS DA MORTE E DA MELANCOLIA NAS 'LÁPIDES LITERÁRIAS' CONTEMPORÂNEAS

Prof. Daniel Salviano (UFPB/LIGEPSI); Profa. Ma. Letícia Simões (PPGL/UFPB/LIGEPSI)

Local, Data e Horário: Auditório 412 (UFPB), 25 de outubro de 2023, das 16h às 18h

Inscrições: https://sigeventos.ufpb.br/eventos/login.xhtml

Resumo:Qual intrépida musa espectadora, a morte, imperturbável anfitriã apta a recepcionar cerimonialmente os desafortunados passageiros da nau de Caronte, observa, silente, os movimentos tépidos da melancolia, numa coreografia de sombras que se entrelaçam em passos cadenciados e cambaleantes, rumo ao vazio, ao nirvana, ao nada. Com voraz intensidade, o presságio sombrio de Thânatos, há tempos, aprisiona homens e mulheres num cárcere cíclico, de penúria e júbilo, de mania dor, nutrindo-os de um desespero agônico e silencioso, cuja potência cinética conduz as pobres almas a oblíquas perambulações pelas regiões mais funestas da existência, bem como pelos plácidos campos da mortificação, onde vegetações mnêmicas brotam ao receberem, maternalmente, o néctar inebriante de Eros, capaz de convertê-las em tristes desvarios. Pelos lábios áridos do deus da morte, desde as estações mais longínquas do passado, uma melodia vibrante reverbera e ecoa de forma opressiva nos tímpanos da humanidade incauta e imprudente. Conscritos ao universo artístico, a título de exemplificação, deparamo-nos, não raras vezes, com seres, reais ou imaginários, imersos numa profunda melancolia, como se atravessassem um bosque sombrio, sulcado de garras pontiagudas, hábeis em "provocar", pelo toque apressado, uma depressão implacável. O espírito desses infaustos encontra-se atormentado por uma tristeza crônica e lúgubre, que se anela a um cântico desesperançoso; o destino cruel, como uma sentença irrevogável, guia- os por estradas ameaçadoras e persecutórias. Nessas paisagens adoecidas e cinzentas, a morte e a melancolia se abraçam como amantes, num balé etéreo e macabro, fadado à eternidade, sinuosamente adornado pelos ecos da finitude, que se compassa em notas (des)afinadas, numa orquestra protagonizada pelos acoites tanáticos ao choroso coração de Cupido. Perambulando pelos sepulcros das subjetividades e desenterrando os ;testamentos literários, esta mesa-redonda vasculhará as catacumbas – sarcófagos de lutos não realizados, de fios depauperados pelas Moiras – assombradas pela dor lancinante da perda, com suas copiosas indumentárias. Num verdadeiro e auspicioso conclave, acolheremos os registros da morte no cânone literário contemporâneo, abraçando o desespero e a melancolia como estrelas crepusculares, penumbras que exalam eflúvios criativos, propiciando à alma a elevação pela palavra; a ausência do objeto metamorfoseia-se em cortejos (fúnebres), em delírios de linguagem, comuns e estéticos. A dor de amar, em sua complexa polifonia, é o lago espelhado em que se reflete um Narciso prepotente e megalomaníaco, como a lua cheia no céu noturno, cujos raios (desejos) encarnam personagens e tramas, criando sinestesias narrativas que escancaram as feridas ulcerantes da vida. Como um pássaro ferido, o cônjuge traído alça voo nos ares da prosa, e as asas literárias se agitam em acrobacias de ressignificação, alçando à esperança de um novo alvorecer. Com efeito, no vórtice do significante, avoluma-se o substrato humano em um caleidoscópio súbito e assaz impreciso. Não surpreendentemente, a mesa se torna um palco sublime em que os estudiosos se curvam diante da escritura literária, desvendando os abismos do ser e os paradoxos da cultura, testemunhas sutis da fragilidade e da força que residem em nossa precária condição contemporânea. Faz-se, logo, peremptório reconhecer o fulgor misterioso e sublime que a melancolia, o luto e a morte conferem à literatura hodierna, num exercício dialético, a partir das "lápides estéticas" que revelam a riqueza da experiência de ser e a essência da vida – e da morte – em seu pungente espl(e)en(dor).



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