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MINICURSO 01 - DISSIMULAÇÕES DIPLOMÁTICAS DO DESEJO, CENAS ESPARSAS DA DESUMANIZAÇÃO: A COLONIZAÇÃO DO OUTRO EM O PERFUME DE ROBERTA, DE RINALDO DE FERNANDES.

Ministrante: Prof. Me. Frederico Lima (UFPB/LIGEPSI)

Data: 26 e 27 de outubro (virtual)

Horário: 16:00 h

Inscrição: https://sigeventos.ufpb.br/eventos/login.xhtml

No final do século XIX e início do XX, ambientação histórica que albergou a fundação do método psicanalítico, a neurose excindiu-se como a querela psíquica que mais aproximou o sujeito de um ideário de sanidade mental, inerentemente controverso e funcional. Conforme ponderou o próprio Sigmund Freud (1905 [1969]), a "normalidade", para a psicanálise, encerra uma conjuntura patológica configurada, na maioria dos casos, por meio de uma menor intensidade e persistência de contendas internas, que impõem aos neuróticos uma vivência, suportavelmente, conflituosa no seu encontro com os demais membros do corpo social, de tal sorte a preservar o substrato coercitivo, tão indispensável à manutenção do projeto civilizatório. Sem exageros, é patente como as desordens narcísicas, assaz frequentes nas estações saturadas da (pós)modernidade, expõem uma predominância cada vez mais acentuada de comportamentos típicos, abonados de constelações subjetivas anômalas, marcadas pela virulência anímica, próprias da perversão. Em outras palavras, pode-se ponderar que a cultura avança, a passos largos, para um laço estranho à propalada "normalidade neurótica" e, paulatinamente, enovelado em fios quebradiços, frágeis e desbotados, característicos de uma certa "normalidade narcísica". O cenário, doravante, torna-se comum à erupção de "anatomias psíquicas" que, embora distantes de uma psicopatologia propriamente dita, arquejam códigos de um mal-estar odioso e infernal, em que a alteridade é sobremaneira suprimida, e o corpo, como entidade autônoma, reduz-se, mais e mais, a mero objeto de consumo e prazer. Aliás, as forças pulsionais são tão devastadoras, fascinantes e imperiosas que seus efeitos impregnam-se, com tamanha potência, na Arte, ou, quem sabe, respondem pelo nascimento daquilo que chamamos de estética, seja na dimensão do self ou das realidades compartilhadas. A literatura, nesse quadro político e ético, consagra-se como instrumento privilegiado, se considerarmos sua presença e papel na história evolutiva da humanidade; não por acaso, reconstrói, pela mímese, as catástrofes de cada tempo e espaço, ora diluindo-as em interpretações infinitas ora convertendo-as em enigmas indecifráveis. Seguindo essa rota, fara fins ilustrativos e analíticos, deparamo-nos com as obras do excelsior escritor Rinaldo de Fernandes, um dos expoentes mais celebrados na/da literatura brasileira contemporânea. O mestre do conto possui uma escrita que traduz, com rigor e sensibilidade artística, fortes registros da precarização das relações humanas, vistas por ângulos incomuns, que transformam ingênuos leitores em cúmplices sórdidos e mesquinhos. Eis o caso da narrativa O Perfume de Roberta, publicado numa coletânea homônima, em 2005, cujos protagonistas lançam-se, cada um a seu modo, numa economia narcísica que lhes garante, ao mesmo tempo, proeminência diegética e esgarçamento humano. Em seus flancos, carrasco e vítima munem-se, em prol da sobrevivência, de uma "curiosa" instrumentalização fetichista. Como baldrame teórico, recorreremos aos postulados de Freud (1905 e 1927), McDougall (1989 e 1997) e Safatle (2010), com vistas a garantir uma perspectiva de leitura apta à dissecação da referida obra de Fernandes (2005), com ênfase nas representações da dinâmica perversa que ganham destaque em toda a poética do escritor maranhense, sob a forma de fotografias das inviabilidades do itinerário humano em sociedade.


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